segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008


“Por que publicar o que não presta? Porque o que presta também não presta. Além do mais, o que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão”. (Clarice Lispector)

E salve, Clarice! A propósito, alguém aí tem uma aspirina por favor?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Melancia matrimonial: Sim! Eu aceito!


O marasmo e a ociosidade do feriado santo (ou seria santo feriado?) me fizeram render a um programa que há uns dez anos não fazia (e, cá entre nós, não pretendia fazer ainda por um bom tempo). A proposta partiu de amigas insanas e muito queridas. E, talvez por isso, eu tenha aceitado a roupa quase de gala de uma delas e me meti no desafio.

As mãos mágicas de minha mãe fizeram o milagre de deixar a anfitriã bonita. Cabelo modernoso, maquiagem impecável, vestido branco, armado, com calda e muito brilho, insinuando a pureza que a cara da noiva acabara logo por desmentir.

Quando espiei Ansiedade na porta da Igreja dentro de um carro de granfino, com flores vermelhas nas mãos, aguardando o grande momento, meu pensamento foi: “Nossa! Certo daquele moço que me disse um dia que não existe gente feia, e sim gente pobre”. Mas logo entrei na “casa do senhor” e comecei a olhar os bancos ao meu redor. Meu Deus! A oligarquia rural caboverdense em peso (literalmente), num show de celulites e gorduras localizadas evidenciadas por vestidos longos, apertados, cinturados e Prada (Mentira! Não eram Prada! Aliás, aquelas “pobres” mulheres nem devem saber o que é isso.). Impressionante como essas ocasiões denunciam o que as calças jeans e camisetas do dia-a-dia, com muito custo, tentam disfarçar. Divaguei sobre a quantidade de sabão daria pra preparar com aqueles lipídios burgueses todos.


Enfim meu pensamento foi interrompido pelo grande Tom Jobim. Isso mesmo! O casal teve a ousadia, a audácia, a pachorra de colocar a exagerada cantora e seu poderoso agudo pra interpretar “Pela luz dos olhos teus”, do mestre da bossa-nova, nos momentos que antecederam a piegas marcha nupcial. Nessa hora, veio o comentário mais sábio e hilário da noite. O grande Thiaguinho (moleque traquinas que perambula pelas ruas de Cabo Verde fazendo peraltices), com seus pés descalços, sua roupa mirrada (como diria minha Vó) e um sorrisão pilantra estampado no rosto (“Mas se a luz dos olhos teus resiste aos olhos meus Só pra me provocar”), se esforçava dependurando em tudo que via pela frente pra tentar, segundo o próprio, (“Meu amor, juro por Deus
Me sinto incendiar”)
enxergar "quem era O PALHAÇO dessa vez” que estava lá na frente a espera da futura esposa que, agora, adentrava sorridente a Igreja. (“Pela luz dos olhos teus eu acho, meu amor, e só se pode achar que a luz dos olhos meus precisa se casar”)Sábio Thiaguinho!

Okay! Padrinhos posicionados, noiva e respectivo noivo no altar, padre ao seu posto e o ritual religioso se inicia. E, com ele, minha irritação! “Que merda é essa?” A cerimônia é EXATAMENTE a mesma que eu presenciei dez anos atrás no estranho casamento de minha prima. O mesmo que vejo nas novelas há uns quinze anos. Sem nenhuma pessoalidade, nenhuma novidade, nenhuma atualização, NADA! Será que o mundo, as pessoas, a história, as novelas, os padres, os Thiaguinhos, as gordas e os casamentos são os mesmos da década passada?

Aquela chatice custava a passar. E entra daminha, sai daminha, noivos de frente, noivos de costas, noivos de lado, todo mundo em pé, todo mundo sentado, reza pai nosso, bate palma, abraça, entra gordo, sai gordo... Ufa! Acho que acabou! Não! Ainda não! Eis que uma das madrinhas toma a palavra. Toma a palavra e salva a cerimônia do fiasco de ser apenas mais um casamento igual a todos os outros desde que inventaram o sacramento. Texto perfeito! Homenagem sincera e descontraída aos amigos noivos. Falava de caipirinha, churrascos, festas, momentos, amizade, amor! O gesto bonito da emocionada madrinha parecia um desabafo, uma despedida, pois, a partir dali, as caipirinhas, churrascos, festas e bagunça provavelmente seriam cada vez mais escassos.

Agora sim, a cerimônia acabou. Saem os padrinhos, pais, daminhas e forma-se uma fila gigantesca para cumprimentar os noivos (¿Cumprimentar? Assim como se faz em aniversários, enterros e velórios?). Eu e minhas amigas nos poupamos de mais essa parte chata do protocolo e pulamos logo para a parte que nos interessava. Aliás, a parte que nos fez estar ali e agüentar aquele Festival da Casa Própria até o final: A festa!

Ah, essa sim dava gosto! Fomos a segunda turma a chegar no salão (os primeiros foram alguns representantes da elite branca e gorda da cidade). Muita cerveja, muita comida, muita alface (Que o diga a SEnhora Caeiro) muitas batidas, musiquinha de elevador, daquelas que nem agrada e nem desagrada, quase imperceptíveis. E, conforme o teor alcoólico dos festeiros ia aumentando, o público ficava mais selecionado e a música mais animada e menos elegante (Ou não!). De repente, me vi em pé, rodeada de amigos, desconhecidos, garçons, de um corredor de Fórmula 1 e, ao fundo, um pancadão.

Nada de Bossa Nova, música clássica, de elevador ou daquela maldita cantora da Igreja e seu agudo ensurdecedor. A alegria da galera era MC Pelé e sua Perigueti. Quer poesia maior e mais propícia à ocasião que “Ela não paga, ganha cortesia. Foge se a sua carteira tiver vazia. Ela usa brilho, piercing no umbigo. Quando toca reggae então ela quer ficar comigo”. A família da noiva se acabava na pista. As gordinhas também. E obviamente que a gente também. Fiquei pensando no quanto a cerimônia na Igreja era dispensável.


Cantamos, dançamos, comemos, bebemos, rimos, tiramos fotos, nos abraçamos e beijamos até cansar. Cansamos. CANSEI! Felicidades aos noivos! Que o funk prevaleça à hipocrisia. Sempre! E que daqui a dez anos, as festas sejam ainda melhores que esta. E os noivos, os bolos, o funk, as comidas, bebidas, as pessoas, as MELANCIAS e as Lanas também.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Melancias no pescoço: Tudo está maior! É carnaval! Vale QUASE tudo!


“E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia que se chamava carnaval. Ô carnaval, o carnaval!” (Chico Buarque)


Não sei ao certo se no carnaval tiram-se ou colocam-se máscaras! O certo é que o “Créu”, a promiscuidade, o vômito do cachaceiro e o comportamento em massa (De repente todos são guerreiros, praieros e solteiros e querem as meninas de Minas Gerais!), tudo isso visto de cima do trio elétrico, além de uma grande e encantadora orgia, parece - e isso possivelmente é um engano - a alegria personificada na multidão dançando libidinosamente.


Alguns condenam: “Que bobagem essa falsa-felicidade! Esse efêmero sentimento de alegria que é tão ou mais alucinógeno que as substâncias que alguns usam para senti-lo facilmente! Será que esses patetas não percebem que logo chega a quarta-feira e tudo volta a ficar literalmente cinzento!?”


Outros vão além: “Festa da carne! Virá o dia em que esses pecadores queimarão todos no mármore do inferno!”


E tem ainda os idiotas que pensam que o apocalipse é na quarta feira de cinzas e acabam quase colocando tudo a perder: “Vamos encher o rabo de tudo o que nos disserem que dá barato! E depois, juntos, cometeremos estupros coletivos! Mocinhas, mulheres, homens! Não perdoaremos nada nem ninguém!"


Pois eu acho tudo isso muito engraçado! Quase tão engraçado quanto uma escola de samba do Rio ser punida com zero vírgula cinco ponto porque colocou na avenida (Imagine você que absurdo!rs) uma mulher com a genitália à mostra! Que disparate! Uma afronta à moral e aos bons costumes que sempre foram marca na Sapucaí nos cinco dias de fevereiro e carnaval! Pfff...


Tive um sonho que o carnaval era uma lente de aumento gigante que vinha surgindo de algum lugar que ninguém sabia onde era e pousava sobre o Brasil no segundo mês do ano! Ela fazia as coisas se mexerem! Quando a lente chegava, nada ficava como antes, tudo era maior! Os moralistas ficavam insuportavelmente moralistas no carnaval. Os descarados, nunca estiveram tão sem-vergonha! Os animados, num frisson de dar gosto. Os melancólicos... Ah, esses nunca refletiram tanto e nunca se lamuriaram tanto! O Rei Momo nunca esteve tão gordo! E a Colombina e a Porta-bandeira vertiginosamente lindas! LINDAS! LINDO!


Pouco me importa se gostam ou não do carnaval! Me importa que alguns gostam e outros odeiam. E eu gosto dos dois! (A riqueza da diversidade! A maravilha das diferenças!). Menos ainda me importa saber o que é certo e o que é errado! A mim encanta a grandeza desse fenômeno! Só! Encanta-me a rotina escorrer por entre os dedos durante cinco dias! Encantam-me sorrisos, sambas, movimento e o liquidificador humano que me fez gargalhar como sempre! E isso tudo (sorrisos, músicas, gargalhadas e muita gente diferente junto), moralistas, conservadores, despudorados, pudicos, abusados e melanciadores hão de convir comigo que só acontece mesmo na festa da carne! É carnaval! Foi carnaval! Acabou! Passou! Vai passar (já dizia Chico!). Que venha 2009! E que a São Clemente aprenda que no carnaval vale QUASE tudo!



"Repique tocou, o surdo escutou e o meu corasamborim! Cuíca gemeu, será que era eu quando ela passou por mim?" (Eu acho que não!) (Tribalistas)