sábado, 14 de junho de 2008

Dor e Delícia

(Cof! Cof! Cof! Quanta poeira nesse lugar! ÁÁÁÁÁÁ!! UMA ARANHA!!)

Quanta saudade! MUITA! Tenho pensado muito em vocês. Os últimos três meses têm sido intensos. Adoraria contar tim-tim-por-tim-tim tudo (ou quase tudo! Para manter o mistério que é bom!). Mas vou me guardar pra quando as férias chegarem. Enquanto isso, deixo pra vocês o único bom fruto de um semestre acadêmico catastrófico (não por minha culpa. Juro!).

Eu, menina criada no Chá Mate Leão (com manteiga, limão e mel quando a garganta doía). Eu, que não gosto do amargo. Eu, mineira fajuta que come pão-de-queijo com Fanta Uva. Eu, que cultivo um rancor pela elite branca, mole, gorda e cafeeira da minha estimada Cabo Verde. Eu! Era eu! O All Star branco (justo ele!) na lama, o sol rachando, o Punga (fusca membro da família Sousa) chacoalhando na estrada de terra, um entusiasmo que há muito não sentia, um carinho enorme por tudo e todos que cruzavam o caminho meu e da câmera do Boi (minha companheira inseparável num fim de semana intenso) e deu no que deu. Aplausos aos homens, mulheres e crianças que vivem a dor e a delícia de serem a Terra do Café! E vaias à Pontifícia!




O grão, que colore as montanhas sul-mineiras de vermelho e orgulho, é colhido, espalhado, seco, torrado e moído. O pó negro que resulta do processo mantém o hábito de mais de 90% dos brasileiros que não abrem mão do tradicional cafezinho diariamente. Na pequena, pacata e charmosa Cabo Verde - cidadezinha do Sul de Minas - o grão é muito mais que só a matéria prima de uma bebida que é fetiche nacional. Trata-se de luta. Ou por sobrevivência ou por poder. E assim, o mesmo grão que garante muito luxo a poucos, impõe a desigualdade a muitos. É a dor e a delícia de se viver a Terra do Café.



368,5 quilômetros quadrados de montanhas, botequins, amigos, fofocas e café... Muito café!

A vivacidade das cores da fruta que gera mais de oito mil empregos em uma cidade com quinze mil habitantes.

Mulheres fortes como poucas.

Sorriso tímido e contido de quem encerra, no alto do cafezal, um dia duro de trabalho.

A dor de ser a terra do café.

De segunda à sexta, escola. No fim de semana, trabalho dura vira brincadeira de criança.

Eloqüentes olhos.


Eles não trabalham sozinhos.

Pintura.

Do alto da montanha, pro terreirão: o tapete.

O rodo dá sua lição: trabalho pesado diariamente para que todos os grãos recebam IGUALMENTE e UNIFORMEMENTE os raios solares.


Seo José Victor, 52 anos de vida e 24 de café. O dia todo de um lado ao outro rendem a ele pouco mais de mil reais por mês.

Impessoalidade.

Seo Lázaro, 60 anos de idade e 20 de café, na esperança de estar vivendo sua última panha: "Ano que vem tento aposentadoria".

Eles revelam.

Secos.

O holandês Pieter, estudioso do grão, ajuda na torrefação artesanal que faz toda diferença.

As mãos. Sempre elas.

Na casa da Dona Tina, o fogão é à lenha...

... o coador sempre de pano. E a prosa, mais que boa. Porque café não é feito pra ser expresso. Não é só tomar. Aqui, na pacata Cabo Verde, é (sobre) viver!


6 comentários:

Anônimo disse...

Óóóóóóótimo amiga.
Prazeroso.
Amo vc.

Unknown disse...

Sem palavras... já me emocionei muito vendo esse seu maravilhoso e sensível trabalho, sensibilidade esta particularmente sua!!!
Parabéns!!!

João Solimeo disse...

Pra quem só toma Nescafé no leite, na correria da manhã, legal lembrar que café nasce do trabalho desse pessoal, e não em potinhos de vidro.
Belas fotos (e texto).
Bjo.

Maíra Colombrini disse...

As fotos ficaram LINDAS!
Amei.

Natalie disse...

Lindo trabalho Lana!
Parabéns!

Anônimo disse...

curti as fotos dos grãos.